terça-feira, 23 de agosto de 2011

Série Destino - Parte 2




Passamos muito tempo acreditando em coisas às quais nunca damos muita importância e sobre as quais – o que é pior – não se costuma refletir muito. Quantas vezes você se pegou pensando na existência e – o que é mais importante – na viabilidade do destino?
Para que se possa nivelar a compreensão a respeito do destino, é preciso estipular uma definição que sirva como base para a continuidade do texto: entenda-se por destino a invariabilidade dos acontecimentos no universo, ou seja, a impossibilidade de que os eventos tanto passados quanto presentes e futuros tenham a possibilidade de ser (ou terem sido, no caso dos eventos passados) diferentes do que foram, são e serão; respectivamente. Isso implica que, nada – nem os seres vivos – têm autonomia para decidir, de forma a mudar a seqüencia dos eventos nos quais estão inseridos.
Geralmente, quando se pensa em destino logo vêm à tona – como pensamentos transversais – a religião e a idéia de descontrole da própria vida. Na verdade, partindo de um pensamento que procure desvincular conceitos de preconceitos, pode-se dizer que o destino está mais relacionado à existência de algo ou algum evento que possa supostamente ter “consciência” sobre a ordem dos eventos que vêm acontecendo desde o início do universo.
Neste momento temos introduzida a idéia de que o universo teve um início – o que é uma informação muito difícil de ser provada – e, por isso, será argumentado sobre o destino partindo de um tempo mais próximo do presente, rumo ao tal momento inicial do universo; assim poder-se-á deixar a idéia mais complexa para ser discutida em outro momento – quando já teremos argumentos mais consistentes para auxiliar na compreensão da idéia.
Sem abandonar o pensamento de que a aceitação da existência do destino implica na eliminação do controle da própria vida, é necessário primeiro desvincular a palavra destino do pensamento que vem quando a pronunciamos e, em seguida, explanar a idéia da tal implicância do destino no descontrole da vida.
Quando falamos em destino – tal como se entende neste artigo – nos vem à mente a semântica que é mais bem traduzida pela palavra: itinerário. Eis um exemplo para que se possa compreender melhor: quando utilizamos um ônibus como serviço de transporte público para ir a um determinado lugar, utilizamos o letreiro da frente como referência para saber qual ônibus deve-se tomar, pois nele temos a indicação do destino, ou seja, do ponto final do ônibus. Neste caso, os itinerários do ônibus são os vários pontos pelos quais o ônibus irá passar pegando e deixando pessoas até chegar ao destino, ao ponto final. Esses itinerários são os vários momentos (pontos) pelos quais tudo – e não apenas os vivos – passam. A partir deste momento, quando for mencionado o destino, subentenda-se itinerário.
Geralmente, opõe-se a aceitar a idéia de destino aquele que recusa a idéia de perder o controle ou o poder de decidir os caminhos da própria vida. Nesse sentido, o incrédulo não se engana por acreditar que o destino elimina o poder de decidir os próprios caminhos, mas sim por acreditar que a sua descrença pode evitar tal característica do destino. Outro grande engano é acreditar que o destino só existe para os seres vivos; o destino existe para tudo o que existe! Entendamos o destino.
O melhor exemplo para compreender o destino inicia-se ao analisarmos o comportamento de um ser humano: todos possuem uma personalidade – um jeito de ser, um temperamento, uma forma de analisar tudo o que está ao redor; essa personalidade é moldada parte pelo DNA do indivíduo e parte pelo seu ambiente. Essa personalidade é o que leva o indivíduo a optar por uma coisa ou outra nos momentos de decisão, que são exatamente o que conduz a vida para um caminho ou outro.
Pois bem! Devemos considerar que o mecanismo para tomada de decisão está subordinado às experiências já vividas pelo ser humano. Sempre que precisamos tomar uma decisão é preciso pensar nos momentos já vividos e, baseados neles, selecionar a opção mais conivente com a reflexão feita, primando sempre pela escolha que, segundo a reflexão feita, tenha – também segundo a reflexão feita – a maior possibilidade de conduzir à melhor situação (que é também sempre um julgamento de valor referente ao indivíduo). É impossível tomar alguma decisão sem ter alguma base sobre a qual se apoiar. Para resumir: só é possível reconhecer aquilo que já se conhece. Portanto, pensando nessa característica, conclui-se que é impossível controlar a própria vida já que as escolhas são frutos de análises feitas baseadas em informações fornecidas pelo ambiente, do qual não escolhemos fazer parte; somos inseridos em um determinado ambiente ao nascermos nele.
É possível perceber que estas características podem ser observadas como um efeito cascata em que um ser humano é fruto de outro e é inserido em um contexto sem escolher, por alguém que também foi inserido em um contexto sem escolher. E então, ao seguirmos este pensamento em um caminho retroativo, chegamos à situação em que a humanidade nasce – e neste caso não é irrelevante saber se a humanidade evoluiu de outras espécies ou veio da areia; chegamos a um momento anterior, em que a vida ainda não existe no universo; o momento onde existe apenas a natureza de partículas e energia, ambos sem vida. Para encontrarmos um ponto mais próximo do início do universo – mas ainda não explicando o início de tudo – podemos pensar na idéia mais difundida pela ciência a respeito de origem do universo, que é a idéia do bigbang, que vê o início do universo como sendo uma partícula muito densa que em algum momento se “explodiu” e deu origem a tudo o que existe hoje. Mesmo não assumindo tal evento como o início do mundo, mas supondo que o seja; supondo também que no exato primeiro momento logo após a explosão da partícula algo estivesse de fora do evento e tivesse a visibilidade dele acontecendo, poder-se-á inferir que, naquele momento, seria possível calcular o movimento de todas as partículas, de toda a energia que estava ali; e então, neste momento, podemos perceber que as próprias leis observadas pela física garantem e asseguram a nossa incapacidade de controlar nossa própria vida, a incapacidade das coisas tomarem caminhos aleatórios. Na realidade, em qualquer momento, se imaginamos a possibilidade de coletar todos os dados do estado do universo em um momento qualquer, se imaginamos um computador com capacidade de processamento o mais próximo do infinito o quanto necessário, poder-se-á calcular a seqüência do evento futuro, e os dados resultantes servirão para calcular o evento seqüente, e assim sucessivamente. Este pensamento permite perceber a invariabilidade do sistema atual.
Neste momento, é possível perceber que para a consciência de que o destino existe, é irrelevante saber se o bigbang foi o início de tudo; é irrelevante que tenha existido alguma consciência do evento no momento do início, é irrelevante possuir a capacidade de coletar todos os dados do universo em um determinado instante e tampouco é relevante possuir a capacidade de processamento necessária para calcular o próximo evento do universo. O que é relevante, na verdade, é que, independente do nosso conhecimento, ou seja, independente do conhecimento humano a respeito do itinerário que o universo tem seguido: tal itinerário ainda existe; ainda que não exista uma consciência por parte de qualquer coisa que possua vida, matéria ou energia, tal ignorância não anula o efeito.
É claro que esta retórica só pode fazer sentido se a existência de um momento inicial do universo puder ser provada e que, esta idéia contraria muito as bases sustentadoras das religiões cristãs.
As implicâncias relacionadas à necessidade da existência de um início para o universo e a própria idéia supramencionada e as implicâncias do destino com relação às religiões cristãs serão abordados em outro escrito, a fim de manter a coesão dos assuntos.

Tese elaborada por Rômero Ricardo

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